Eu e o mano Veio estamos numa incumbência urgente: arrumar o chuveiro, enquanto o Pedroca e a Nani brincam de pintar com a prima Lelê. Falo pro Veio, in off: "Vamos de bike pra ir mais rápido na loja de construção aqui perto". De mansinho, vamos saindo pra garagem, mas, surpresa!, lá está o seu Pedroca, devidamente trajado de Super-Homem, já encarapitado na cadeirinha da bike. Tento argumentar:
- Pedro, fica aqui com a sua irmã, senão ela vai chorar.
- Não, quero ir junto.
- Por favor, Pedro a gente vai rapidinho...
- Nada disso. Quero ir também.
Pra evitar tumulto, vamos saindo, quando a Nani ouve o movimento e começa a chorar, querendo ir. Resmungo:
- Tá vendo, Pedro, tadinha. Você fez ela chorar...
- Ah, você sempre faz isso!
- Eu?
- É... Quando você vai trabalhar, ou pra faculdade.
- Mas aí é por uma boa causa, né, Pedro? Você não, só vai pra bagunçar!
- Não, eu não vou pra bagunçar. Vou pra salvar o mundo.
Chegando à casa de construção, ele se encanta com um espelho de luz do Mickey e me pede pra levar. Eu retruco:
- Ah, então você não veio pra salvar o mundo nada. Veio é pra comprar coisas pro seu quarto!
- É! Pro meu esconderijo secreto.
-----------------------------------------
Em nossas incursões de bike pelo bairro, vemos uma cachorrinha linda, corintiana, que me lembra a Pandora. Dou um suspiro:
- Que saudade da Popó, Pedroca...
- É mesmo... - responde o suspiro.
Depois de um breve silêncio, solta essa:
- O mundo podia ter um botão de reiniciar, né, mamãe?
sábado, 5 de novembro de 2011
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA PARA DIONÍSIO
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
IX
“Conta-se que havia na China uma mulher
belíssima que enlouquecia de amor todos
os homens. Mas certa vez caiu nas
profundezas de um lago e assustou os peixes.”
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.
X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Hilda Hilst
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
IX
“Conta-se que havia na China uma mulher
belíssima que enlouquecia de amor todos
os homens. Mas certa vez caiu nas
profundezas de um lago e assustou os peixes.”
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.
X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Hilda Hilst
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Claricices
Come, meu filho (Clarice Lispector)
- O mundo parece chato mas eu sei que não é. Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, nunca está embaixo, nunca está de lado. Eu sei que o mundo é redondo porque disseram, mas só ia parecer redondo se a gente olhasse e às vezes o céu estivesse lá embaixo. Eu sei que é redondo, mas para mim é chato, mas Ronaldo só sabe que o mundo é redondo, para ele não parece chato.
- . . .
- Porque eu estive em muitos países e vi que nos Estados Unidos o céu também é em cima, por isso o mundo parecia todo reto para mim. Mas Ronaldo nunca saiu do Brasil e pode pensar que só aqui é que o céu é lá em cima, que nos outros lugares não é chato, que só é chato no Brasil, que nos outros lugares que ele não viu vai arredondando. Quando dizem para ele, é só acreditar, pra ele nada precisa parecer. Você prefere prato fundo ou prato chato, mamãe?
- Chat... raso, quer dizer.
- Eu também. No fundo, parece que cabe mais, mas é só para o fundo, no chato cabe para os lados e a gente vê logo tudo o que tem. Pepino não parece inreal?
- Irreal.
- Por que você acha?
- Se diz assim.
- Não, por que é que você também achou que pepino parece inreal? Eu também. A gente olha e vê um pouco do outro lado, é cheio de desenho bem igual, é frio na boca, faz barulho de um pouco de vidro quando se mastiga. Você não acha que pepino parece inventado?
- Parece.
- Onde foi inventado feijão com arroz?
- Aqui.
- Ou no árabe, igual que Pedrinho disse de outra coisa?
- Aqui.
- Na Sorveteria Gatão o sorvete é bom porque tem gosto igual da cor. Para você carne tem gosto de carne?
- Às vezes.
- Duvido! Só quero ver: da carne pendurada no açougue?!
- Não.
- E nem da carne que a gente fala. Não tem gosto de quando você diz que carne tem vitamina.
- Não fala tanto, come.
- Mas você está olhando desse jeito para mim, mas não é para eu comer, é porque você está gostando muito de mim, adivinhei ou errei?
- Adivinhou. Come, Paulinho.
- Você só pensa nisso. Eu falei muito para você não pensar só em comida, mas você vai e não esquece.
- O mundo parece chato mas eu sei que não é. Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, nunca está embaixo, nunca está de lado. Eu sei que o mundo é redondo porque disseram, mas só ia parecer redondo se a gente olhasse e às vezes o céu estivesse lá embaixo. Eu sei que é redondo, mas para mim é chato, mas Ronaldo só sabe que o mundo é redondo, para ele não parece chato.
- . . .
- Porque eu estive em muitos países e vi que nos Estados Unidos o céu também é em cima, por isso o mundo parecia todo reto para mim. Mas Ronaldo nunca saiu do Brasil e pode pensar que só aqui é que o céu é lá em cima, que nos outros lugares não é chato, que só é chato no Brasil, que nos outros lugares que ele não viu vai arredondando. Quando dizem para ele, é só acreditar, pra ele nada precisa parecer. Você prefere prato fundo ou prato chato, mamãe?
- Chat... raso, quer dizer.
- Eu também. No fundo, parece que cabe mais, mas é só para o fundo, no chato cabe para os lados e a gente vê logo tudo o que tem. Pepino não parece inreal?
- Irreal.
- Por que você acha?
- Se diz assim.
- Não, por que é que você também achou que pepino parece inreal? Eu também. A gente olha e vê um pouco do outro lado, é cheio de desenho bem igual, é frio na boca, faz barulho de um pouco de vidro quando se mastiga. Você não acha que pepino parece inventado?
- Parece.
- Onde foi inventado feijão com arroz?
- Aqui.
- Ou no árabe, igual que Pedrinho disse de outra coisa?
- Aqui.
- Na Sorveteria Gatão o sorvete é bom porque tem gosto igual da cor. Para você carne tem gosto de carne?
- Às vezes.
- Duvido! Só quero ver: da carne pendurada no açougue?!
- Não.
- E nem da carne que a gente fala. Não tem gosto de quando você diz que carne tem vitamina.
- Não fala tanto, come.
- Mas você está olhando desse jeito para mim, mas não é para eu comer, é porque você está gostando muito de mim, adivinhei ou errei?
- Adivinhou. Come, Paulinho.
- Você só pensa nisso. Eu falei muito para você não pensar só em comida, mas você vai e não esquece.
sábado, 1 de outubro de 2011
Estavam Pedroca, Yanni e o vovô no parque. A Dona Nani, sapeca que só, já foi tirando as sandálias, rolando na terra, feliz da vida.
O vovô, preocupado:
- Yanni, vamos colocar a sandalinha?
A Yanni, delicadamente, cantarolando:
- Não...
O vô insiste:
- Vamos, coloca a sandália, Yanni.
- Não...
De repente, fiat lux! O vô vê o Buzz Lightyear na mão do Pedroca:
- Olha, Yanni, até o Buzz está com sapatinho. Vamos colocar a sandalinha, que nem ele?
Vem a ansiada resposta:
- Sim!
Dona Nani pega as sandalinhas abandonadas na terra e vem toda pirilampa em direção ao vô e ao Pedroca. Senta-se e... coloca as sandálias no Buzz.
O vovô, preocupado:
- Yanni, vamos colocar a sandalinha?
A Yanni, delicadamente, cantarolando:
- Não...
O vô insiste:
- Vamos, coloca a sandália, Yanni.
- Não...
De repente, fiat lux! O vô vê o Buzz Lightyear na mão do Pedroca:
- Olha, Yanni, até o Buzz está com sapatinho. Vamos colocar a sandalinha, que nem ele?
Vem a ansiada resposta:
- Sim!
Dona Nani pega as sandalinhas abandonadas na terra e vem toda pirilampa em direção ao vô e ao Pedroca. Senta-se e... coloca as sandálias no Buzz.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Mãe da Manhã (Gilberto Gil)
meu canto na escuridão
minha voz, meu amparo
aro de luz nascente do dia
brota na gruta da dor
mãe da manhã, de tudo eu faria
pra conservar vosso amor
a cada ano, uma romaria
uma oferenda, uma prenda, uma flor
a cada instante, um grão de alegria
lembranças do vosso amor
Santa Virgem Maria
vós que sois Mãe do Filho do Pai do Nascer do Dia
abençoai minha voz, meu cantar
na escuridão dessa nostalgia
dai-nos a luz do luar
meu canto na escuridão
minha voz, meu amparo
aro de luz nascente do dia
brota na gruta da dor
mãe da manhã, de tudo eu faria
pra conservar vosso amor
a cada ano, uma romaria
uma oferenda, uma prenda, uma flor
a cada instante, um grão de alegria
lembranças do vosso amor
Santa Virgem Maria
vós que sois Mãe do Filho do Pai do Nascer do Dia
abençoai minha voz, meu cantar
na escuridão dessa nostalgia
dai-nos a luz do luar
domingo, 18 de setembro de 2011
Agora sim, intindi!
A mãe na sala, lixando unha. Vem a dona Yanni:
- Quiisso, mamãe?
- É lixa.
- Lixa?
Segundos depois...
- Quiiso, mamãe?
- Lixa, Yanni.
- Lixa?
Mais alguns instantes...
- Quiiso?
- É lixa, Yanni!
- Ahhh... lixa! Intindi!
Após pausa dramática, dando o devido espaço para os risos da plateia, lá vem ela de novo, estendendo as mãozinhas:
- Eu também.
- Quiisso, mamãe?
- É lixa.
- Lixa?
Segundos depois...
- Quiiso, mamãe?
- Lixa, Yanni.
- Lixa?
Mais alguns instantes...
- Quiiso?
- É lixa, Yanni!
- Ahhh... lixa! Intindi!
Após pausa dramática, dando o devido espaço para os risos da plateia, lá vem ela de novo, estendendo as mãozinhas:
- Eu também.
Tá explicado
Comentário do Pedroca sobre mais uma propaganda ridícula Polishop, em que seres supersarados ficam sobre um aparelho, Energym Turbo, estremelicando seus músculos:
- Aff, as pessoas devem ficar com dor de barriga, né?
- Por que, Pedroca?
- Ah, fica tudo tremendo... Por isso que chama É merdim!
- Aff, as pessoas devem ficar com dor de barriga, né?
- Por que, Pedroca?
- Ah, fica tudo tremendo... Por isso que chama É merdim!
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Problemas familiares (participação especial do Benício, amigão do Pedroca)
- Sabe o problema na minha família? É que o meu cachorro é mais bagunceiro que eu...
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Haja fôlego!
- Pedro, por favor, para de falar só um pouquinho?
- Ahhhh, mamãe....
- Você não cansa nunca?
- Não... Eu tenho fôlego!!!
- Ahhhh, mamãe....
- Você não cansa nunca?
- Não... Eu tenho fôlego!!!
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Negociações
- Pedroca, você tá amigão do Leo agora, né?
- É, mamãe, ele tá legal!
- Que bom! Ele não fica mais querendo mandar em você?
- Ahhh... De vez em quando ele quer ser o chefe da brincadeira...
- E aí?
- Aí eu deixo, né? Eu não sei fazer par-ou-ímpar direito... Nem ele... Nem dois-ou-um. Só joquempô. Mas eu nem ligo. Eu digo pra ele: Vai, Leo, pode ser o chefe, tudo bem. Faz de conta que eu sou o Scooby-doo, e você, o Salsicha. E vamo brincar!
- É, mamãe, ele tá legal!
- Que bom! Ele não fica mais querendo mandar em você?
- Ahhh... De vez em quando ele quer ser o chefe da brincadeira...
- E aí?
- Aí eu deixo, né? Eu não sei fazer par-ou-ímpar direito... Nem ele... Nem dois-ou-um. Só joquempô. Mas eu nem ligo. Eu digo pra ele: Vai, Leo, pode ser o chefe, tudo bem. Faz de conta que eu sou o Scooby-doo, e você, o Salsicha. E vamo brincar!
domingo, 19 de junho de 2011
Pequeno Volp Yannesco
- Abô = acabou.
- Ata! = eca!
- Atoda! = acorda!
- Bodabidá? = posso pintar?
- Betats = Backyardigans.
- Biitinho = bonitinho; (var.) mitinho.
- Bôta = boca.
- Caranojo = caramujo (genérico: napa).
- Cháli = Charlie; gato em geral.
- Ché = Shrek.
- Diiça = delícia.
- Fois = flor.
- Gado = obrigado(a); (var.) dadado.
- Memênti = Megamente.
- Môta = Mônica.- Napa = qualquer coisa sem nome conhecido.
- Papapapá = Bob Esponja Calça Quadrada.
- Pei = peito (ou seja, "quero mamar").
- Pataio = papagaio.
- Piito = pirulito.
- Pôba = pomba.
- Pooite = boa noite; (var.) poite ("boa noite" brava ou com pressa).
- Pota = pipoca.
- Potó = cavalo.
- Supípi = Desculpe.
- Taão = macarrão.
- Talo = carro; (var.) bibi.
- Teceteza = tenho certeza.
- Tibiitinho... = que bonitinho...
- Tiindo! = que lindo!
- Tiooojo! = que nojo!
- Tolo = colo.
- Tuntum = cocô.
- Xiita = mexerica.
- Ata! = eca!
- Atoda! = acorda!
- Bodabidá? = posso pintar?
- Betats = Backyardigans.
- Biitinho = bonitinho; (var.) mitinho.
- Bôta = boca.
- Caranojo = caramujo (genérico: napa).
- Cháli = Charlie; gato em geral.
- Ché = Shrek.
- Diiça = delícia.
- Fois = flor.
- Gado = obrigado(a); (var.) dadado.
- Memênti = Megamente.
- Môta = Mônica.- Napa = qualquer coisa sem nome conhecido.
- Papapapá = Bob Esponja Calça Quadrada.
- Pei = peito (ou seja, "quero mamar").
- Pataio = papagaio.
- Piito = pirulito.
- Pôba = pomba.
- Pooite = boa noite; (var.) poite ("boa noite" brava ou com pressa).
- Pota = pipoca.
- Potó = cavalo.
- Supípi = Desculpe.
- Taão = macarrão.
- Talo = carro; (var.) bibi.
- Teceteza = tenho certeza.
- Tibiitinho... = que bonitinho...
- Tiindo! = que lindo!
- Tiooojo! = que nojo!
- Tolo = colo.
- Tuntum = cocô.
- Xiita = mexerica.
sábado, 18 de junho de 2011
Beira-mar novo
Beira-mar, beira-mar novo
Foi só eu é que cantei
Ô beira-mar, adeus dona
Adeus riacho de areia
Vou levando minha canoa
Lá pro poço do pesqueiro
Ô beira-mar, adeus dona
Adeus riacho de areia
Arriscando minha vida
Numa canoa furada
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Adeus, adeus, toma adeus
Que eu já vou me embora
Eu morava no fundo d'água
Não sei quando eu voltarei
Eu sou canoeiro
Eu não moro mais aqui
Nem aqui quero morar
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Moro na casca da lima
No caroço do juá
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Adeus, adeus, toma adeus
Que eu já vou me embora
Eu morava no fundo d'água
Não sei quando eu voltarei
Eu sou canoeiro
Rio abaixo, rio acima
Tudo isso eu já andei
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Procurando amor de longe
Que perto eu já deixei
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Composição : Folclore do Vale do Jequitinhonha / Adaptação: Frei Chico e Lira Marques
Foi só eu é que cantei
Ô beira-mar, adeus dona
Adeus riacho de areia
Vou levando minha canoa
Lá pro poço do pesqueiro
Ô beira-mar, adeus dona
Adeus riacho de areia
Arriscando minha vida
Numa canoa furada
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Adeus, adeus, toma adeus
Que eu já vou me embora
Eu morava no fundo d'água
Não sei quando eu voltarei
Eu sou canoeiro
Eu não moro mais aqui
Nem aqui quero morar
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Moro na casca da lima
No caroço do juá
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Adeus, adeus, toma adeus
Que eu já vou me embora
Eu morava no fundo d'água
Não sei quando eu voltarei
Eu sou canoeiro
Rio abaixo, rio acima
Tudo isso eu já andei
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Procurando amor de longe
Que perto eu já deixei
Ô beira-mar, adeus dona,
Adeus riacho de areia
Composição : Folclore do Vale do Jequitinhonha / Adaptação: Frei Chico e Lira Marques
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Papo escatológico de fim de noite
- Ah, não, a Yanni fez cocô... Eca!
- E o papai largou ela aqui só pra eu ter que trocar. Que saco! Deixa eu ir lá...
- Nada disso, mamãe! Por que só você? Vou chamar o papai, ele também tem de sofrer um pouquinho.
- Hahahahahaha, então chama ele, Pedro.
- Papaaaaai! Vem pegar a Yanni, que a gordabol fez cocô. Agora você tem que sofrer as consequências também.
- Eu já sofri as consequências hoje duas vezes.
- Hahahahahaha, Pedro, você tá muito inspirado, vou ter que ligar de novo o computador pra colocar isso no blog.
- É, mamãe, eu fiz isso de propósito. Queria mesmo que você ligasse o computador.
- E o papai largou ela aqui só pra eu ter que trocar. Que saco! Deixa eu ir lá...
- Nada disso, mamãe! Por que só você? Vou chamar o papai, ele também tem de sofrer um pouquinho.
- Hahahahahaha, então chama ele, Pedro.
- Papaaaaai! Vem pegar a Yanni, que a gordabol fez cocô. Agora você tem que sofrer as consequências também.
- Eu já sofri as consequências hoje duas vezes.
- Hahahahahaha, Pedro, você tá muito inspirado, vou ter que ligar de novo o computador pra colocar isso no blog.
- É, mamãe, eu fiz isso de propósito. Queria mesmo que você ligasse o computador.
Gostos exóticos
Na missa de 1 ano de morte da bachan, o Pedroca contempla a mesa recheada de guloseimas japonesas. O tio sarrista ao lado apresenta as novidades:
– Sabe o que é aquilo lá, Pedro?
– Não!
– Minhoca. E aquilo lá?
– O que é?
– Barata. E esse prato é de lesma com cobra. Delícia, né?
– É. Ah, mamãe, aquilo lá é a comida preferida do Yang, da minha escola.
– Legal! Quer experimentar?
– Quero.
Instantes depois...
– E aí, Pedroca, gostou?
– Adorei! Melhor coisa que eu já provei. Mas não quero mais não.
– Sabe o que é aquilo lá, Pedro?
– Não!
– Minhoca. E aquilo lá?
– O que é?
– Barata. E esse prato é de lesma com cobra. Delícia, né?
– É. Ah, mamãe, aquilo lá é a comida preferida do Yang, da minha escola.
– Legal! Quer experimentar?
– Quero.
Instantes depois...
– E aí, Pedroca, gostou?
– Adorei! Melhor coisa que eu já provei. Mas não quero mais não.
Ancestrais
- Mamãe, é verdade que todo mundo é um pouco índio?
- É sim, Pedro.
- Você também?
- Eu não, porque os meus avós vieram de longe, de outros países.
- Ah é! De Ibiúna, né?
- É sim, Pedro.
- Você também?
- Eu não, porque os meus avós vieram de longe, de outros países.
- Ah é! De Ibiúna, né?
terça-feira, 31 de maio de 2011
Abaixo a tirania!
O pai está assistindo a um filme de suspense, compenetradíssimo. Vem o Pedroca, colorido como sua bexiga, fazendo altos malabarismos e firulas: um show! Bem na frente da TV.
O pai, por sua vez, faz malabarismos com o pescoço buscando a vista da cena:
– Sai da frente, Pedro!
O Pedro, inconformado, sai um pouco de cena, mas logo volta.
O pai repete, mais bravo:
– Pedro, sai, cara!
Ele sai, mas a bola insiste em ficar em cena e escorrega pra frente da TV. Pobre malabarista, tem de correr pra zona de risco de novo:
– Eu tenho que passar bem abaixadinho pra não incomodar a majestade...
O pai, por sua vez, faz malabarismos com o pescoço buscando a vista da cena:
– Sai da frente, Pedro!
O Pedro, inconformado, sai um pouco de cena, mas logo volta.
O pai repete, mais bravo:
– Pedro, sai, cara!
Ele sai, mas a bola insiste em ficar em cena e escorrega pra frente da TV. Pobre malabarista, tem de correr pra zona de risco de novo:
– Eu tenho que passar bem abaixadinho pra não incomodar a majestade...
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Para encontrar o azul eu uso pássaros
Os seres beijados de flores
de brisa
de sol
sabem mais da ternura das águas
Manoel de Barros
de brisa
de sol
sabem mais da ternura das águas
Manoel de Barros
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Super-heróis caseiros
– Pedro, leva sua irmã pra sala, que ela tá me atrapalhando aqui na cozinha.
– Pode deixar, mamãe! – O Pedroca chega, pulando com sua capa do Batman. – Vem, Yanni! A gente não pode perder tempo. Vamo salvar o mundo!
– Pode deixar, mamãe! – O Pedroca chega, pulando com sua capa do Batman. – Vem, Yanni! A gente não pode perder tempo. Vamo salvar o mundo!
quarta-feira, 30 de março de 2011
Parece mas...
Entramos em uma lojinha, Pedro, Yanni e eu. Logo três vendedoras se aproximaram e começaram, em jogral:
– Ahhhh... que linda... – moça 1.
– Que princesa... – moça 2.
– Como ela chama? – moça 3.
– Yanni – o Pedro respondeu, desconfiado.
– E esses cachinhos!!! – moça 2.
– Parece um anjinho – moça 3.
– É, parece mesmo – o Pedro resmungou. – Mas na verdade é um diabão!
– Ahhhh... que linda... – moça 1.
– Que princesa... – moça 2.
– Como ela chama? – moça 3.
– Yanni – o Pedro respondeu, desconfiado.
– E esses cachinhos!!! – moça 2.
– Parece um anjinho – moça 3.
– É, parece mesmo – o Pedro resmungou. – Mas na verdade é um diabão!
domingo, 13 de março de 2011
El pimiento
En el centro de la pampa
vive un pimiento.
Sol y viento pá su vida,
sol y viento.
Coronado por la piedra
vive el pimiento.
Luna y viento lo vigilan,
luna y viento.
Cuando sus ramas florecen
es un incendio,
tanto rojo que derrama,
rojo entero.
Rojo entero.
Nadie lo ve trabajar
debajo'el suelo
cuando busca noche y día
su alimento.
Pimiento rojo del norte,
atacameño,
siento el canto de tus ramas
en el desierto.
Debes seguir floreciendo
como un incendio
porque el norte es todo tuyo,
todo entero.
Todo entero.
Victor Jara
sábado, 12 de março de 2011
IX
“Conta-se que havia na China uma mulher
belíssima que enlouquecia de amor todos
os homens. Mas certa vez caiu nas
profundezas de um lago e assustou os peixes.”
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.
Hilda Hilst. Júbilo, memória, noviciado da paixão.
“Conta-se que havia na China uma mulher
belíssima que enlouquecia de amor todos
os homens. Mas certa vez caiu nas
profundezas de um lago e assustou os peixes.”
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.
Hilda Hilst. Júbilo, memória, noviciado da paixão.
quarta-feira, 9 de março de 2011
A consultora do ajudante n. 1
O Pedroca adora guardar as compras no armário. Hoje, todo compenetrado arrumando sacos e latas, recorreu à consultoria da Nani:
– Yanni, vem cá! Preciso da sua "openião".
Lá vai a pequena serelepe, correndo na ponta do pé. Para ao lado dele.
– Yanni, você acha que tá bom?
– CHIMMM!!!
– Mamãe, você viu?! Ela respondeu pra mim!
– Eu vi! Como você conseguiu, Pedro?
– Ah, é fácil. Quer ver? Nani, SIM!
– CHIMMM!!!
– NÃO!
– NAUMMM!
– Viu? Eu comando ela.
– Yanni, vem cá! Preciso da sua "openião".
Lá vai a pequena serelepe, correndo na ponta do pé. Para ao lado dele.
– Yanni, você acha que tá bom?
– CHIMMM!!!
– Mamãe, você viu?! Ela respondeu pra mim!
– Eu vi! Como você conseguiu, Pedro?
– Ah, é fácil. Quer ver? Nani, SIM!
– CHIMMM!!!
– NÃO!
– NAUMMM!
– Viu? Eu comando ela.
sexta-feira, 4 de março de 2011
O apanhador de desperdícios
Manuel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.
Manuel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios.
quinta-feira, 3 de março de 2011
Lembrança do mundo antigo
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em [redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, [pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em [redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, [pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Autocrítica do Pedroca
– Eu não sou violento, mas sou bem chato. (Comentando a um senhor no ônibus sua relação com a Yanni.)
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
A inocência do primeiro dia de aula no 1º ano
O Pedroca estava ansioso em começar suas aulas. Com o pedido de transferência, as férias dele se prolongaram além da nossa vontade... Mas hoje as aulas voltaram. Escola nova, 1º ano! Acordou cedo sem reclamar. Antes de ele sair com o pai, fui dar um beijo:
– Pedro, este ano você vai aprender a ler. Não vai ser só brincadeira. Tem que prestar atenção na professora...
– Hã hã... (sonolento).
– Então ouve tudo o que ela disser pra aprender, tá?
– Tá. Vou ficar bem esperto, assim (arregala os olhos, ficando meio vesgo).
– Não precisa ficar desse jeito, Pedro! (risos) É só ficar com a cabeça esperta, ligada... Porque depois você vai me contar o que a professora te ensinou.
– Tá.
– Este ano você vai ter lição de casa. E a mamãe vai te ajudar.
– Ebaaaa!!!
– Pedro, este ano você vai aprender a ler. Não vai ser só brincadeira. Tem que prestar atenção na professora...
– Hã hã... (sonolento).
– Então ouve tudo o que ela disser pra aprender, tá?
– Tá. Vou ficar bem esperto, assim (arregala os olhos, ficando meio vesgo).
– Não precisa ficar desse jeito, Pedro! (risos) É só ficar com a cabeça esperta, ligada... Porque depois você vai me contar o que a professora te ensinou.
– Tá.
– Este ano você vai ter lição de casa. E a mamãe vai te ajudar.
– Ebaaaa!!!
Crítica cinematográfica
– Eu achei esse filme (Edward mãos de tesoura) mais bom que aquele da mulher brava (A guerra dos Roses). Eu odeiei aquele filme. Mas se eu sabesse que o menino (Edward) ia ficar sozinho no castelo eu não tinha assistido não... Fiquei triste! Agora vou ter pesadelo.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Na casa do vovô
Vô – Lembra, Pedro, quando eu te falei que essa árvore ia ficar toda amarela?
Pedro – Lembro! Mas por que ela ficou assim? Tá fantasiada pro carnaval?
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