domingo, 22 de novembro de 2015

"Antes de tudo sentir e ver. E quando em vez de ver se passa a olhar, acendem-se luzes raras e tudo adquire voz. Assim, descobri, de repente, num segundo fulgurante, que existe uma Dança das Árvores. Não são todas as que conhecem o segredo de bailar no vento. Mas as que possuem tal graça organizam rondas de folhas rápidas, de ramas, de brotos, em torno de seu próprio tronco estremecido. E é todo um ritmo que se cria nas frondes; ritmo ascendente e inquieto, com encrespamentos e retornos de ondas, com pausas brancas, respiros, vencimentos, que se alvoroçam e viram torvelinho, de repente, numa música prodigiosa do verde. Não há nada mais bonito que a dança de um maciço de bambus na brisa. Nenhuma coreografia humana tem a eurritimia de uma rama que se desenha sobre o céu. Chego a me perguntar às vezes se as formas superiores da emoção estética não consistiriam, simplesmente, num supremo entendimento do criado. Um dia, os homens descobrirão um alfabeto nos olhos das caledônias, nos veludos pardos da falena, e então se saberá com assombro que cada caracol manchado era, desde sempre, um poema."
Alejo Carpentier, Os passos perdidos.