quarta-feira, 8 de maio de 2019

Crisálida

Pupa meu corpo alma se cobre de fios tecidos na saliva de palavras inauditas Imagens me habitam há tanto séculos segundos milênios. Advindas da terra que forma meus ossos? da água ferrosa que corre nas veias? do fogo que a faz bombear pelo corpo no ritmo do tambor central? do ar que me inspira? De onde vêm não sei, nunca saberei. O fato é que elas me constituem en-sinam, des-tinam, desatinam. Sou seu veículo, seu canal. Se minha boca não dá conta elas transbordam em choro verso sonho delírio insânia.

Dói senti-las pulsando sob essa parede mole e viscosa que se enreda pelos poros, narina, olhos, ouvidos, membros, sexo.
Viram uma segunda pele, me protegem de sentir sem metáforas bebo delas, ouço seus sussurros em canto,
ainda que não lhes entenda o sentido de sua fala.

Ulisses às avessas
os fios que me atam são tecidos da saliva marinha desses estranhos seres sereias.

Estas palavras não passam de seus perdigotos.