Não tenho medo das minhas entranhas. Estranha entro nas frestas escuras onde se
perdem agulhas. Elas fincam fundo sem a gente saber. Fundam espinhos no inconsciente
da casa esperando um lampejo de sol para voltar à vida, ao destino a que foram forjadas.
Laçar, atar, dar nós. Navegar o rio do tecido.
Não tenho medo das minhas entranhas. Mergulho nelas e nelas me perco, encantada
pela estranheza de ser outros em mim.
Meu sangue é meu rio, mergulho nele, perco o senso, o rumo, a proa. Pra canoa
me falta o remo, a bússola, a estrela guia. Espero o sol sangrar no poente e sigo demente.