quinta-feira, 28 de novembro de 2019

"Talvez a minha vocação não seja esta
ou seja esta por ter perdido o espaço que nunca tive
Era algo selvagem algo violentamente vivo
o espaço na sua integridade deslumbrante
o mar na sua plenitude de felina substância
as ilhas de ouro verde as ilhas solares
as grandes pradarias com os seus cavalos vagarosos e tranquilos
a liberdade de ser o fogo com as suas veias indolentes
Sim eu perdi todo esse espaço que nunca tive
e se escrevo é para inventar um espaço a partir desta perda
na ficção de respirar o que há de mais selvagem e mais nu
como se estivesse entre escarpas verdes inundado pela espuma
ou como se estivesse no esplendor do deserto à hora do meio-dia
Mas o que faço não é mais do que um trabalho de insecto
que perfura a cal e as páginas dos livros
para traçar a sua caligrafia insignificante
na nulidade de uma matéria árida e anónima"
António Ramos Rosa, Deambulações oblíquas, 2001
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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Por que se negar à tormenta
se a massa revolta venta
e só assim se movimenta?


Quando a calma é tumulto
a turba é onde nos sentimos alma
onde grita o silêncio 
a vida morre inteira 

em cio