essa tranquilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.
Além de mim
– e entre mim e meu deserto –
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto do meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha."
Olga Savary
então delira imagens irreais
balbucia ao léu sentenças ilógicas
à lei do mercado
às frases feitas pelo coach da hora
e adequadas à ABNT
poeta é ser perdulário
abandona quadras pelo caminho
bradando versos que ninguém escuta
pois fala a língua do abismo
sabe sem saber o abre-te-sésamo
poeta é ser distraído
atravessa sem notar o portal invencível
mas não vê o cobiçado tesouro
motivo de capas e espadas
antes queda absorto
nas joias cores das asas do besouro
e ninguém entende
alguém tão inepto
mergulhar no concreto
e criar pontes de nuvem
com palavras insanas e ações vadias
poeta é ser extraviado
sem noção de tempo-espaço
por isso esquece a hora do almoço
se perde entre quatro paredes
e encontra Pasargada
refletida na lama
um dia num vão da praça
num dia vadio como ele
o poeta abre os olhos pra dentro
e morre à míngua
deixando na terra uma carcaça anônima
e no ar uma catinga de infinito