quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Não devia ser "de vez em sempre"?

De vez em quando a gente precisa:

  • tomar umas
  • dançar
  • namorar
  • conversar com migs
  • passear sem tempo de voltar
  • devanear
  • escrever
  • ler poesia
  • cantar no chuveiro
  • brincar na chuva
  • rolar na areia
  • fazer nada.

Por que será que só sobra de vez em quando pro que é essencial?

Viagem ou jornada?

 

Viagem é a caminhada sem fim predeterminado, sem objetivos definidos. É um pisar no chão em ritmo pessoal, aberto ao devaneio, ao sonhar acordado, livre da tirania do relógio, da cobrança de ser produtivo.

Jornada, do latim diurnus, é o "caminho que se pode percorrer em um dia", lembra a etimologia, memória das palavras. É o percurso produtivo, diurno, regido pelo Chronos e pela necessidade de prestar contas ao padrão e ao patrão.

Não à toa o discurso corporativo se incomoda com viagens, reais ou astrais. Elas não cabem ao/à homo/mulier produtivus, que deve vender sua força e tempo de vida para ter direito a consumir e pagar seus tributos e os devidos juros ao capital, como todo/a homem/mulher "de bem". De modo que ter tempo livre para simplesmente caminhar ao léu não é desejável nem respeitável. A escolha de palavras sempre revela uma intenção, consciente ou não.