sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Pés brincantes sabem

a redondeza grave do chão 

rolam e deslizam 

pulam amarelinha 

nos seixos molhados 

à beira d'água

Pés lembram quedas

 fraturas e torções 

Topam com pedras 

e descaminhos 

Pés descobrem trilhas 

sem mapa

Sonham reinos

 insondáveis 

Pés pedem solas andarilhas 

a quem basta o pisar

singrando ventos 

farejando rotas 

ignotas nos calcanhares


Foto: Nádia Tobias Yanim




 Lateja 

aqui dentro

uma ausência: será

amor?


ou ânsia de ter

o mundo brotando 

num pulso?


batem as folhas 

da veneziana

vento de tempestade

gestado

no útero da calmaria


a boca voraz

deste verão antecipado

engole a primavera

queima a pele dos devaneios

pescados à sesta


exilado na estante de livros

o ciclame no vaso

derrama

suas pétalas em lágrimas


salvo do incêndio

à sombra se sonha

o que resta de cor 

e delicadeza