quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Drummond e a jurubeba teimosa

Era só uma rachadura, solitária e triste, na calçada. Solitária e triste é coisa de gente metida a poeta que bota sentimento em tudo o que vê. Enfim, pros menos melancólicos, era só uma rachadura.

Numa manhã nevoenta, ou talvez ensolarada, sabe lá, neste clima doido da grande sampa, um passarinho inspirado deixou uma fértil contribuição, e na brecha começou a crescer um brotinho.


Claro que os urbanistas amadores, com seu ímpeto em manter tudo devidamente reto, cinza e chato, quiseram arrancar o brotinho. "Posso cortar? É só mato! Vai sujar a calçada". Mas o pezinho teimoso ganhou minha simpatia. Nossas almas roceiras se reconheceram de pronto. "Deixa o mato aí, o que será que será?"

Alguns meses depois, o mato atrevido se revelou um pé de jurubeba. Agora, jovem senhora, já dá flores e frutos, pra festa dos passarinhos!

A jurubeba teimosa "furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio", dando vida ao poema do Drummond, mais atual que nunca...
         

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