sábado, 15 de julho de 2017

Anima e animus

"Uma das funções do devaneio é libertar-nos dos fardos da vida. Um verdadeiro instinto de devaneio é ativo na nossa anima; é esse instinto de devaneio que dá à psique a continuidade do seu repouso. A psicologia da idealização é aqui nossa única tarefa. A poética do devaneio deve dar corpo a todos os devaneios da idealização. Não basta, como costumam fazer os psicólogos, designar os devaneios de idealização como fuga para fora do real. A função do irreal encontra seu emprego sólido numa idealização bem coerente, numa vida idealizada, acalentadora no coração, que dá um dinamismo real à vida. O ideal de homem projetado pelo animus da mulher e o ideal de mulher projetado pela anima do homem são forças de união que podem superar os obstáculos da realidade. Amamos em toda idealidade, encarregando nosso parceiro de realizar a idealidade tal como a sonhamos. No segredo dos devaneios solitários animam-se, assim, não sombras, mas clarões que iluminam a aurora de um amor." (Bachelard, A poética do devaneio, p. 70)

Imagem: Jose Ramon Diez Rebanal, Centauro y ninfa

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